terça-feira, 29 de novembro de 2016

AVISO MATERNAL E OPORTUNÍSSIMO DE NOSSA SENHORA.

Haverá algo mais importante nesta vida do que estar preparado para comparecer ao Juízo após a morte, no qual decide-se nosso destino eterno? É natural que Nossa Senhora, Mãe extremosa dos homens, nos ajude na preparação para enfrentarmos tal momento de suprema importância.
Muitos anos atrás, um amigo deu-me de presente uma medalhinha com o curioso nome de Nossa Senhora do “aviso”. Fiz o óbvio, ou seja, agradecer a medalha e perguntar-me que aviso era aquele. “Ora, pois”— respondeu-me o descendente de portugueses — “o aviso de que o Sr. vai morrer”.
Levei um primeiro choque, pois, se bem seja verdade que todos vamos morrer, e não sabemos quando, um frio passou-me pela espinha ao pensar que talvez o fato de receber a medalha fosse o aviso da morte. Riu de bom grado o português, quando fiz esse comentário. Certamente seu rosto redondo não parecia o de um mensageiro de fatalidade. “O Sr. parece ateu. Pensa talvez que Nossa Senhora vai avisá-lo sem dar, ao mesmo tempo, uma graça de resignação?”. Isso tranquilizou-me. Primeiro, porque eu tinha recebido um susto, não uma graça. E depois porque pareceu-me tão óbvio que uma Mãe desse tal aviso da forma mais adequada possível, que fiquei até envergonhado dessa minha reação.
De lá para cá, tenho guardado a medalha e rezado toda noite, na confiança de que Nossa Senhora avisar-me-á para preparar-me, quando chegar a hora mais séria de minha vida.

Histórico peculiar da devoção.

Em fins do século XVII existia, numa pequenina localidade portuguesa chamada Serapicos, uma capela dedicada a Nossa Senhora do Aviso, que era servida por uma confraria do mesmo nome. A confraria é anterior a 1726, pois nessa data já era enriquecida de indulgências.
Antiga medalha de
Nossa Senhora do Aviso.
Quando foi construída a capela? Nada consta. Sabe-se apenas que ela foi edificada em agradecimento pelos habitantes do povoado, após um deles, que regressava à casa num dia de inverno numa carroça puxada por uma junta de bois, ter sido surpreendido por lobos famintos. O homem aflito implorou o auxílio de Nossa Senhora, e os lobos retiraram-se sem fazer-lhe o menor dano, bem como aos dois animais.
A primitiva capela, danificada pelo tempo, foi substituída por uma nova, no mesmo local, por volta de 1890. Esta encontra-se de pé até hoje.
Curiosamente, não se conseguiu retirar a imagem do local. Em 1840, algumas pessoas tentaram levá-la para o enterro de uma senhora, muito portuguesamente apelidada de Tia Pimparela. Mas, após andarem uns 300 metros, não conseguiam movê-la, devido a seu peso. Estupefatos, os devotos decidiram conduzi-la de volta à capela, o que conseguiram sem dificuldade. Igualmente, habitantes do povoado de Sanceriz pretenderam transportá-la para sua igreja, na calada da noite, sob a alegação de prestarem-lhe um culto mais digno. Mas nem esses robustos habitantes de Sanceriz puderam carregá-la, devido ao inesperado peso que notaram na imagem.

A graça da boa morte.

Analisando os relatos de graças recebidas pelos devotos da imagem, encontramos grande variedade delas: curas de doenças, mudos que começam a falar, proteção contra ataques de lobos etc. Mas os relatos que mais chamam a atenção são os de pessoas avisadas da morte próxima. Transcrevemos abaixo dois relatos relativamente recentes, recolhidos por um sacerdote da região:
A Sra. Dona Maria Rufina Baptista, de 84 anos de idade, grande devota de Nossa Senhora do Aviso, quando estava em seu leito de dor, esperando a hora da partida, três dias antes de sua morte, pediu para mandar vir os filhos da França, pois estava à beira da morte. Quando os filhos chegaram, disse-lhes: “Estava à vossa espera. Agora já posso partir. Irei só amanhã, como me avisou Nossa Senhora do Aviso. Isto foi no dia 17 de março de 1986, e ela morreu no dia 18 às 21 horas”.1
Em 1988, no curso duma peregrinação à capela, ao ser contada a crença profundamente arraigada no povo da região, de que aqueles que levam a Medalha de Nossa Senhora do Aviso e rezam a ela são avisados três dias antes da morte e ajudados a bem morrer, uma senhora presente deu este testemunho: “É verdade o que acabais de ouvir, e posso atestá-lo com dois fatos ocorridos em minha família. Sou viúva, o meu marido foi seminarista. Tendo saído do seminário, casou-se e sempre foi católico fervoroso e exemplar chefe de família. Trazia a medalha de Nossa Senhora do Aviso. Três dias antes de sua morte, chamou-me e disse: “Eu suponho que estou em graça de Deus, mas quero preparar-me melhor, pois vou morrer brevemente. Nossa Senhora já me avisou. Quero que o Sr. Prior me venha confessar e me dê todos os sacramentos”. Passados três dias, morreu santamente. Igualmente meu filho de 15 anos disse-me: “Mamãe, é inútil querer curar-me. Deus me quer para Si. Nossa Senhora já me avisou que vou morrer. Mande chamar o Sr. Prior”. Eu respondi-lhe: “Meu filho, sabes a pena que sinto com tua morte, mas se é essa a vontade de Deus, que ela se faça”. Passados poucos dias, meu filho morreu também santamente, dizendo-me antes, quando lhe perguntei como sabia que ia morrer, o seguinte: “Mamãe, Nossa Senhora avisou-me, mas o modo como me avisou, não o posso dizer, é segredo”.2

Devoção muito confortante.

Meditando sobre essa devoção, encontramos vários fatos dignos de consideração. O primeiro é que ela nasceu de um episódio aparentemente não relacionado com o aviso da morte, como é salvar um carreteiro e seus bois dos lobos. Mas, na realidade, é bom ressaltar que na hora da morte o demônio age como um lobo faminto, ansioso em apanhar suas vítimas. A Sagrada Escritura compara o demônio tentador a uma fera rugindo a nosso redor: “Sede sóbrios e vigiai, porque o demônio, vosso adversário, anda ao redor, como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (I Pd 5,8) 3. E se as tentações nessa vida podem ser terríveis, não serão ainda mais violentas as últimas tentações antes da morte, nas quais se joga tudo e para sempre?
Antigo hino à
Nossa Senhora do Aviso.
Isto nos leva a uma segunda consideração. Dada a seriedade dessa hora, teria sentido que Nossa Senhora, tendo nos ajudado ao longo de toda nossa vida, justamente nesse momento decisivo não nos avisasse para comparecermos eximiamente bem preparados ante seu Divino Filho, que deve ser nosso Juiz? Assim como uma boa mãe ajuda seu filho na escola durante todo o ano, e chegando a época das provas finais ela extrema sua dedicação maternal, preocupação e ajuda, assim também Nossa Senhora atua nesse momento culminante da vida do homem.
Finalmente, chama a atenção a graça de tranquilidade que vem junto ao aviso de morte próxima. Não aparecem nos relatos das pessoas que recebem o aviso cenas de pânicos, revoltas ou desespero, que poderiam ocorrer ante uma situação tão dramática, como se pode atestar quotidianamente num hospital. Pelo contrário, nota-se uma conformidade com a vontade de Deus, que é bem um sinal de Nossa Senhora. Não seria razoável Nossa Senhora nos avisar o momento de nossa morte e, ao mesmo tempo, não nos ajudar a prepararmo-nos para essa ocasião. Quem poderá fazer uma boa preparação para a morte se está, por exemplo, revoltado diante da possibilidade de ter que abandonar seus filhos em meio às incertezas da vida? Ou de deixar a família numa situação econômica comprometida? Justamente, ao aviso de Nossa Senhora vem associada uma certeza de que, sendo Deus a sabedoria, Ele escolherá, por excelência, o melhor momento para prestarmos conta de nossa vida.
Não conhecemos o futuro, mas Deus sabe.

Notas:
1.Pe. Adérito Augusto Custódio, Nossa Senhora do Aviso, Notas históricas, Bragança, Portugal, 1990, p. 56.
2.Idem, p. 57.
3.Bíblia Sagrada, Ed. Paulinas, 6ª edição, 1953, São Paulo, traduzida da Vulgata pelo Pe. Matos Soares.

(Valdis Grinsteins – Catolicismo.com.br) 

domingo, 27 de novembro de 2016

TRÊS GRANDES SANTAS... TRÊS GRANDES CONSELHOS!

Uns querem emagrecer; outros querem ganhar mais dinheiro; outros tantos, enfim, querem viajar, arranjar um namorado, etc. No início de cada ano, o que mais se vê são pessoas fazendo propósitos para cumprirem durante o ano que se inicia.
Que tal, então, fazer um propósito para a sua vida com Deus? O que acha de seguir os conselhos de três grandes santas para progredir na caminhada rumo ao Céu, que é a nossa grande meta?
No início de cada ano as pessoas geralmente se imputam alguns objetivos para serem cumpridos ao longo do ano. Assim, para a vida espiritual, propomos também uma meta e, para isso, nada melhor que tomar como modelo três conselhos de três grandes santas da Igreja: Santa Teresa de Jesus, Santa Catarina de Sena e Santa Teresa de Lisieux, seguindo as indicações extraídas da obra “Doctoras de la Iglesia”, do Padre Antonio Royo Marín.
O primeiro conselho vem de Santa Teresa d'Ávila, que conseguiu progredir espiritualmente de uma forma extraordinária mesmo não tendo diretores espirituais satisfatórios. Na época dela, havia a convicção de que quando a pessoa crescia espiritualmente deveria deixar de lado a reflexão sobre a humanidade de Cristo, sua Paixão, o quanto Ele nos amou, enfim, a meditação concreta sobre o Evangelho. Para eles, quanto mais alto o nível de vida mística, maior deveria ser a contemplação da Trindade.
Santa Teresa de Jesus.
Santa Teresa de Jesus, como grande doutora, notou o erro desse tipo de pensamento. Para ela, em todas as etapas da caminhada espiritual é imprescindível a meditação sobre a humanidade de Cristo. Ele é o caminho. Em sua obra “Caminho de Perfeição”, ensina às monjas que utilizem de imagens de Cristo crucificado, chagado e, a partir da imagem, meditem sobre o grande amor que Deus tem pela humanidade.
O primeiro ponto, portanto, é olhar para a Paixão de Cristo, olhar para o Amor encarnado, concreto, real, histórico com que Deus amou os homens e sobre ele fundamentar o próprio edifício espiritual, afinal, como ensina São João: “O amor consiste nisso: Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Deus quem nos amou enviando seu Filho para a expiação dos nossos pecados” (4,10). Logo, a morte de Cristo na Cruz é a realidade concreta do amor de Deus.
O edifício espiritual de muitas pessoas vem abaixo por conta do esquecimento desse primeiro ponto: Deus amou a humanidade e cada um por primeiro. E esse amor não é uma teoria, mas uma realidade que se fez carne na humanidade de Cristo. Assim, o primeiro passo para o ano de 2017 é fazer o firme propósito de ter a cruz de Cristo diante dos olhos em todos os momentos. “Jesus, amor encarnado, chagado por mim”, apropriando-se dessa certeza: “Eu fui amado com amor infinito, sem defeito, não sou mais uma vítima, não preciso mendigar o amor dos outros”.
Santa Teresa de Lisieux.
O segundo ponto vem de Santa Teresinha do Menino Jesus e se trata de como responder ao amor de Deus. Diante dos grandes santos algumas pessoas reagem com desânimo, pois estas grandes almas tornam inalcançável o ideal de santidade; outras, fazem desses santos modelos e procuram imitá-los, desejando igual santidade.
A Pequena teve sua intuição básica ao perceber que existem almas, grandes santos, grandes homens e mulheres escolhidos por Deus, uma elite espiritual, que a imensa maioria da humanidade, não conseguirá nunca imitar. No entanto, segundo ela, existe também uma outra família: a das Pequenas Almas, na qual ela se via incluída, embora fosse uma grande alma.
Em sua doutrina ela diz que as pequenas almas podem também amar a Deus, não com a forma heroica dos grandes santos, mas de forma ordinária, comum. Todos são chamados a transformar cada um dos pequenos atos da vida em amor a Deus. Oferecer TUDO a Jesus, seja bem ou mal, alegria ou tristeza, contentamento ou frustração, tudo por amor a Jesus. Santa Terezinha transformou todos os pequenos atos ordinários de sua vida em amor, por isso ela foi extraordinária na ordinariedade com que viveu o amor a Jesus.
Este foi o segundo ponto: amar de volta aquele que amou por primeiro. Tal ensinamento tem a grande vantagem de trazer a religião para a vida cotidiana, de tal forma que ninguém precise mais esperar a data do martírio para fazer qualquer ato heroico de amor a Deus. Todos podem amá-Lo desde já, desde agora.
É por isso que Santa Terezinha, embora tenha sofrido muito com a doença de seu pai e com a sua própria doença, demonstrou ser uma mulher de grande maturidade espiritual mesmo aos 24 anos de idade. Impressionante foi o seu caminho espiritual, de menina mimada, imatura e vitimista, que foi transformada por Deus numa grande santa. Amar de volta Aquele que nos amou por primeiro.
O terceiro ponto vem de Santa Catarina de Sena, leiga terciária que nunca viveu num convento; celibatária, mas não freira no sentido técnico da palavra. Mesmo analfabeta, escreveu cartas e mais cartas para o Papa, que estava escondido em Avignon, convencendo-o a reassumir seu lugar na Igreja, portanto, num certo sentido, Santa Catarina de Sena mudou o destino da Igreja.
Santa Catarina de Sena.
Com seus gestos ela ensina uma coisa muito importante: a conversão dos pecadores deve ser buscada por todos para que Deus seja agradado, o que torna todos apóstolos. Nela se compreende o ensinamento de Santo Tomás de Aquino, que o amor pode ter vários objetos. O objeto material do amor pode ser Deus, a própria pessoa ou até mesmo os bilhões de pessoas da Terra, os santos, os anjos, etc. todos podem ser amados. Contudo, a caridade, o amor só tem um objeto formal: Deus. Amar a Deus por Deus, amar ao próximo por amor a Deus, amar a si mesmo por amor a Deus. Ele é a modalidade pela qual se deve amar. Portanto, a vida de apostolado, o sacrifício, a pregação, o pedido de conversão pelos pecadores deve ter como foco principal o amor para com Deus. Só assim haverá sentido.
Assim, ter sempre diante dos olhos o amor de Deus encarnado e a cruz de Cristo, lembrando-se de que Ele nos amou por primeiro, é o primeiro objetivo. O segundo é responder a esse amor nos pequenos gestos e atos ordinários no dia a dia e o terceiro, ser missionário, levando outros a Deus, motivados a dar maior glória a Deus, fazendo como um ato de amor a Ele, levando seus filhos de volta para casa. Estes são os passos extraídos das lições das três grandes doutoras que nos oferecem um projeto espiritual para 2017. Quem aceita o desafio?

(Equipe Christo Nihil Praeponere, com edições próprias)

SÃO BRÁS DE SEBASTE, BISPO E MÁRTIR.

De onde vem este costume singular, de pedir a São Brás a cura das doenças da garganta? Convido o leitor a reviver os maravilhosos fatos da vida deste glorioso mártir dos primeiros tempos do cristianismo, nos quais encontrará a origem de sua poderosa intercessão junto a Nosso Senhor.


Brás vem de blandus, “suave”, ou de belasíus, formado de bela, “costume”, e syor, “pequeno”. De fato, Brás foi suave em seus sermões, virtuoso em seus costumes e humilde em sua conduta.
Brás era de grande doçura e santidade, o que fez os cristãos o elegerem bispo da cidade de Sebaste, na Capadócia. Por causa da perseguição de Diocleciano, após receber o episcopado retirou-se para uma caverna onde passou a levar vida eremítica. Os passarinhos levavam-lhe de comer e juntavam-se em torno dele, só o deixando depois de ter sido abençoado por ele. Se algum deles estava doente, ia vê-lo e retornava perfeitamente curado.
O governador da região tinha mandado alguns guerreiros caçar, mas o esforço deles estava sendo em vão, até que por acaso passaram pela gruta de São Brás, onde encontraram grande quantidade de animais, que, contudo, não puderam pegar. Admirados, relataram o fato a seu senhor, que imediatamente mandou vários guerreiros com ordem de aprisionar São Brás e todos os cristãos que encontrassem. Mas naquela mesma noite Cristo apareceu ao santo três vezes, dizendo-lhe: “Levante e ofereça-me o sacrifício”. Quando os soldados chegaram e disseram: “Saia, o governador o chama”, São Brás respondeu: “Sejam bem-vindos, meus filhos, vejo que Deus não me esqueceu”. Durante o trajeto não cessou de pregar e, na presença deles, de realizar vários milagres.
Uma mulher levou até ele seu filho, que estava morrendo por causa de uma espinha entalada na garganta, e pediu-lhe em lágrimas a cura do menino. São Brás colocou as mãos sobre a cabeça dele e fez uma prece para que aquela criança, assim como todos os que pedissem o que quer que fosse em seu nome, tivesse saúde, e no mesmo instante o menino ficou curado.
Outra mulher, pobre, tinha apenas um porco, que foi roubado por um lobo, o que a levou a pedir a São Brás a restituição do animal. Sorrindo, o santo disse: “Mulher, não fique assim desconsolada, pois seu porco será devolvido”. Logo em seguida o lobo apareceu e devolveu o animal à viúva.
Chegando à cidade, Brás foi mandado para a prisão por ordem do príncipe. No dia seguinte, o governador mandou trazê-lo à sua presença. Ao vê-lo, cumprimentou-o, dirigindo-lhe palavras lisonjeiras: “Brás, amigo dos deuses, seja bem-vindo”. Brás respondeu: “Honra e alegria para você, ilustre governador, mas não chame de deuses os demônios, porque eles serão entregues ao fogo eterno junto com aqueles que os honram”.  Irritado, o governador mandou fustigá-lo e depois o enviou para a prisão. Brás disse: “Insensato, você espera com suplícios tirar do meu coração o amor ao meu Deus, que me fortalece?”.
Ora, a viúva à qual fora devolvido o porco ouviu isso, matou o animal e levou a São Brás uma vela, um pão, a cabeça e os pés do animal. Ele agradeceu, comeu e disse-lhe: “Todos os anos vá a uma igreja e ofereça uma vela em meu nome, e tudo correrá bem para você e aqueles que a imitarem”. Ela assim fez e conseguiu grande prosperidade. Depois disso o governador tirou Brás da prisão, mas como não conseguia fazê-lo honrar os deuses, mandou pendurá-lo numa árvore, rasgar sua carne com pentes de ferro e, em seguida, levá-lo de volta à prisão. Ao longo desse trajeto ele foi seguido por sete mulheres, que recolhiam gotas do seu sangue. Também elas foram presas e forçadas a sacrificar aos deuses. Então disseram: “Se vocês querem que adoremos seus deuses, mande levá-los com reverência ao lago, para que depois de lavados estejam mais limpos quando os adorarmos”. O governador ficou contente e mandou fazer o mais depressa possível o que elas pediam. Mas elas jogaram os deuses no meio do lago, dizendo: “Logo veremos se são deuses”. Ao ouvir isso, o governador ficou furioso e batendo no próprio peito disse a seus guardas: “Por que não seguraram nossos deuses para que não fossem jogados no fundo do lago?”. Eles: “Você foi enganado por estas mulheres que planejaram jogar as imagens no lago”. Elas explicaram: “O verdadeiro Deus não admite mentiras, e se aqueles realmente fossem deuses teriam previsto o que queríamos fazer com eles”.
Irado, o governador mandou preparar chumbo derretido, pentes de ferro e, de um lado, sete couraças incandescentes e, de outro, sete camisas de linho. Disse a elas que escolhessem o que preferiam. Uma delas, que tinha dois filhos pequenos, aproximou-se com audácia, pegou as camisas e jogou-as na fogueira. Os filhos disseram: “Mãe querida, não nos deixe viver sem você, e da mesma maneira que nos saciou com a doçura do seu leite, sacia-nos agora com a doçura do reino do Céu”. O governador mandou então pendurá-las e com os pentes de ferro rasgar sua carne em tiras. Carne que tinha a brancura ofuscante da neve, e em vez de sangue dela escorria leite.
Como os suplícios eram muito duros, um anjo do Senhor foi até elas e animou-as dizendo: “Não temam, pois, um operário que começa bem seu trabalho e completa sua obra, merece a bênção do amo e o salário, ficando feliz por ter cumprido seu dever”. O governador mandou então parar as torturas e jogá-las na fogueira, mas por intervenção divina o fogo apagou e elas nada sofreram. O governador ordenou-lhes: “Parem de empregar magia e adorem os deuses”. Elas replicaram: “Acabe o que começou, porque já somos chamadas ao reino celeste”. Ele sentenciou-as a ter a cabeça cortada. No momento em que iam ser decapitadas puseram-se de joelhos e adoraram a Deus, dizendo: “Ó Deus que nos tirou das trevas e nos trouxe a esta dulcíssima luz, que nos escolheu para sermos sacrificadas em sua honra, receba nossas almas e faça-nos alcançar a vida eterna”. Elas tiveram então as cabeças cortadas e passaram ao Senhor.
Relíquia de São Brás.
Depois disso o governador mandou trazer Brás à sua presença, dizendo: “Adore já nossos deuses, ou não os adorará jamais”. Brás respondeu: “Ímpio, não temo suas ameaças; faça o que quiser que entrego todo meu corpo a você”. O governador mandou jogá-lo no lago, mas Brás fez o sinal-da-cruz sobre a água, que se solidificou imediatamente como se fosse terra seca, e disse: “Se os seus são deuses verdadeiros, mostre o poder deles e entre aqui”. Os 65 homens que se adiantaram foram imediatamente tragados pelo lago. Um anjo do Senhor desceu e disse: “Saia, Brás, e receba a coroa que Deus preparou para você”. Quando ele saiu o governador perguntou: “Então você está determinado a não adorar os deuses?”. Brás: “Fique sabendo, miserável, que sou escravo de Cristo e não adoro os demônios”.
No mesmo instante foi dada a ordem de decapitação. Brás pediu então ao Senhor que se alguém invocasse seu patrocínio contra dor de garganta ou qualquer outra enfermidade, fosse atendido. E uma voz do Céu respondeu-lhe, dizendo que assim seria. A seguir ele e os dois meninos foram decapitados por volta do ano do Senhor de 283.
Sua memória é honrada aos 3 de fevereiro.

sábado, 26 de novembro de 2016

UM JUBILEU QUE SE FECHA REPLETO DE CONTRADIÇÕES.

Francisco abre a Porta Santa da Basílica de São Pedro, no Vaticano.
Uma das chaves para a interpretação do pontificado do Papa Francisco é, definitivamente, seu amor pela contradição. Essa disposição de espírito é evidente na carta Apostólica ‘Misericórdia et miserável’, assinada na conclusão do Jubileu extraordinário da misericórdia. Nesta carta, o Papa Bergoglio, estipula que aqueles que frequentam igrejas da fraternidade de São Pio X para receber a absolvição sacramental, a receberão validamente e legalmente. Este pronunciamento do Papa também foi um dos principais fatores de “irregularidades” na fraternidade fundada pelo mons. Lefebvre: A validade das confissões. Seria contraditório imaginar que uma vez reconhecida válidas e legais as confissões, também não seriam consideradas como legítima as Santas Missas celebradas pelos padres da mesma, que são em qualquer caso, certamente válidas. A partir deste ponto se torna confusa a necessidade de um acordo entre Roma e a fraternidade fundada por mons. Lefebvre, vista que a posição destes sacerdotes na verdade é regularizada e que questões doutrinais ainda sobre a mesa, para o Papa, como é conhecido, os afetam escassamente.
Na mesma carta, que “nenhum obstáculo se interponha entre o pedido de reconciliação e o perdão de Deus”, Bergoglio concede, doravante para “todos os sacerdotes, em virtude de seu ministério, o direito de absolver quem cometera o pecado do aborto”. Na verdade, os sacerdotes já tinham o direito de perdoar o pecado do aborto em confissão. No entanto, na prática milenar da Igreja, o aborto está entre os pecados graves automaticamente punidos com a excomunhão. “Quem provoca o aborto, para obter o efeito incorre em excomunhão latae sententiae”, lê-se no Código do Direito Canônico de 1983, Canon 1398. Os sacerdotes, até então, precisavam de permissão do seu bispo para remover a excomunhão antes de conceder a absolvição do pecado do aborto. Agora, cada sacerdote pode absolver também a excomunhão, sem ter que recorrer ao seu bispo ou ser delegado. A excomunhão de fato “cai” e o aborto perde sua gravidade e punição prevista no Direito Canônico.
Em uma entrevista concedida aos 20 de novembro à Tv2000, Bergoglio disse que o “aborto continua a ser um pecado grave”, um “crime horroroso”, porque “põe fim à vida de um inocente”. Pode o Papa ignorar que sua decisão em praticamente extinguir a pena de excomunhão latae sententiae do pecado do aborto, relativiza esse “crime horrendo” e permite os meios de comunicação apresentá-lo como um pecado que a Igreja considera não tão grave e sério e que facilmente concederá perdão?
O Papa em sua carta diz que “não há pecado que a misericórdia de Deus não pode chegar e destruir quando encontra um coração arrependido que implora para ser reconciliado com o Pai”, mas, como é evidente a partir de suas próprias palavras, a misericórdia é tal porque pressupõe a existência do pecado e da justiça. Por que falar então sempre em Deus bom e misericordioso e nunca em Deus que recompensa e pune de acordo com os méritos e as falhas do homem? Os Santos, como tem sido observado, nunca deixaram de glorificar a misericórdia Deus, inesgotável e acessível a todos, mas juntos, nunca deixaram de temer a sua justiça, rigorosa e exigente. Seria contraditório para um Deus ser capaz apenas de amar e recompensar o bem e incapaz de odiar e punir o mal.
Se não se crê na existência de Deus e de sua lei divina, mas que Ele e sua lei é algo abstrato e pouco prático e a única coisa que importa é a vida concreta do homem, e que por isso não podemos deixar de pecar, e o que realmente importa é não manter a lei, mas a confiança cega na misericórdia e no perdão divino, lamento informar, mas “pecca fortiter, acredita fortius”. Esta doutrina não é e nunca foi própria da Igreja Católica, mas sim, de Lutero.
(Por Roberto de Mattei su “II Tempo”, com edições próprias)

O "SÍNODO DO ADULTÉRIO".

Ícone de São Teodoro Studita.
Com o nome de “Sínodo do adultério”, entrou para a História da Igreja uma assembleia de bispos que no século IX quis aprovar a prática do segundo casamento após o repúdio da esposa legítima.
São Teodoro Studita (759-826) foi um dos que mais vigorosamente se lhe opuseram, sendo por isso perseguido, preso e exilado três vezes.
Tudo começou em janeiro de 795, quando o imperador romano do Oriente (basileus) Constantino VI (771-797) encerrou sua esposa Maria de Armênia em um convento e iniciou uma união ilícita com Teodota, dama de honra de sua mãe Irene.
Poucos meses depois, o imperador fez proclamar Teodota “augusta”, mas não tendo conseguido convencer o patriarca Tarasius (730-806) a celebrar o novo casamento, encontrou finalmente um ministro complacente no hegúmeno José, abade do mosteiro de Kathara, na ilha de Itaca, que abençoou oficialmente a união adúltera.
Nascido em Constantinopla no ano de 759, São Teodoro era então monge no mosteiro de Sakkudion, na Bitinia, cujo abade era seu tio Platão, também venerado como santo.
O injusto divórcio produziu – informa ele numa carta – uma profunda comoção em todo o povo cristão: concussus est mundus (... Ep II, n 181, PG, 99, coll 1559-1560CD), o que o levou a protestar energicamente com São Platão em nome da indissolubilidade do vínculo.
O imperador deve ser considerado adúltero – escreveu – e, portanto, o hegúmeno José deve ser considerado gravemente culposo, por ter abençoado adúlteros e os ter admitido à Eucaristia. “Coroando o adultério” o hegúmeno José se opôs ao ensinamento de Cristo e violou a Lei de Deus, asseverou (Ep. I, 32, PG 99, coll. 1015 / 1061C).
Para Teodoro, também o patriarca Tarasius deveria ser condenado, pois embora não tivesse endossado o novo casamento, havia se mostrado tolerante, evitando excomungar o imperador e punir o padre José.
Essa atitude era típica de um setor da Igreja do Oriente, que proclamava a indissolubilidade do matrimônio, mas na prática mostrava uma certa submissão em relação ao poder imperial, semeando confusão nas pessoas e provocando o protesto dos católicos mais fervorosos.
Baseando-se nos escritos de São Basílio, Teodoro alegou o direito dos súditos de denunciar os erros do próprio superior (Epist. I, n. 5, PG, 99, coll. 923-924, 925-926D), e os monges de Sakkudion romperam a comunhão com o patriarca, por sua cumplicidade com o divórcio do imperador.
Estourou assim a chamada “questão moicheiana” (de moicheia = adultério), que colocou Teodoro em conflito não só com o governo imperial, mas com os próprios patriarcas de Constantinopla.
Este é um episódio pouco conhecido, sobre o qual o Prof. Dante Gemmiti levantou o véu alguns anos atrás, numa cuidadosa reconstrução histórica baseada em fontes gregas e latinas (Teodoro Studite e la questioni moicheiana, LER, Marigliano 1993), confirmando como no primeiro milênio a disciplina eclesiástica da Igreja do Oriente ainda respeitava o princípio da indissolubilidade do casamento.
Em setembro de 796, Platão e Teodoro foram presos com certo número de monges do Sakkudion, internados e depois exilados a Tessalônica, aonde chegaram em 25 de março 797.
Em Constantinopla, no entanto, o povo julgava Constantino um pecador que continuava a dar escândalo público e, alentado pelo exemplo de Platão e Teodoro, aumentava sua oposição a cada dia.
O exílio durou pouco porque, na sequência de uma conspiração de palácio, o jovem Constantino foi cegado pela mãe, que assumiu sozinha o governo do império. Irene chamou de volta os exilados, que mudaram para o mosteiro urbano de Studios, juntamente com a maioria da comunidade de monges de Sakkudion.
Teodoro e Platão se reconciliaram com o patriarca Tarasio que, após a chegada de Irene ao poder, havia condenado publicamente Constantino e o hegúmeno José pelo divórcio imperial.
O reinado de Irene foi breve. Em 31 de outubro de 802, um de seus ministros, Nicéforo, depois de uma revolta palaciana, proclamou-se imperador. Pouco depois, quando morreu Tarasio, o novo basileus fez eleger Patriarca de Constantinopla um alto oficial imperial também chamado Nicéforo (758-828).
Em um sínodo convocado e presidido por ele, em meados do ano 806, Nicéforo reintegrou em seu ofício o hegúmeno José, deposto por Tarasio.
Teodoro, que se tornara chefe da comunidade monástica de Studios após Platão se retirar para a vida de recluso, protestou energicamente contra a reabilitação do hegúmeno José, e quando este último recomeçou a exercer o ministério sacerdotal, rompeu a comunhão com o novo patriarca.
A reação não tardou. Studios foi ocupado militarmente, Platão, Teodoro e seu irmão José, Arcebispo de Tessalônica, foram presos, condenados e exilados.
Em 808 o imperador convocou outro sínodo, que se reuniu em janeiro de 809. Foi essa assembleia sinodal que, em uma carta de 809 ao monge Arsênio, Teodoro definiu como “moechosynodus”, ou seja, o “Sínodo do adultério” (Ep. I, . 38, PG 99, coll. 1041-1042c).
O Sínodo dos Bispos reconheceu a legitimidade do segundo casamento de Constantino, confirmou a reabilitação do hegúmeno José e anatematizou Teodoro, Platão e seu irmão José, que foi deposto de seu cargo de Arcebispo de Tessalônica.
Para justificar o divórcio do imperador, o Sínodo utilizava o princípio da “economia dos santos” (tolerância na práxis). Mas para Teodoro nenhum motivo podia justificar a transgressão de uma lei divina.
Baseado nos ensinamentos de São Basílio, de São Gregório Nazianzeno e de São João Crisóstomo, ele declarou privada de fundamento bíblico a disciplina da “economia dos santos”, segundo a qual em algumas circunstâncias se podia fazer o mal em nome da tolerância para um mal menor – como neste caso do casamento adúltero do imperador.
Poucos anos depois, na guerra contra os búlgaros (25 de Julho 811), morreu o imperador Nicéforo, subindo ao trono outro funcionário imperial, Miguel I.
O novo basileus chamou Teodoro de volta do exílio, tornando-o um de seus mais escutados conselheiros. Mas a paz durou pouco.
No verão de 813, os búlgaros infligiram uma gravíssima derrota a Miguel I em Adrianópolis, e o exército proclamou imperador o chefe dos anatólios, Leão V, conhecido como “o Armênio” (775-820).
Quando Leão depôs o patriarca Nicéforo e condenou o culto às imagens, Teodoro assumiu a liderança da resistência contra a iconoclastia.
Teodoro de fato se destacou na História da Igreja não somente como adversário do “Sínodo do adultério”, mas também como um dos grandes defensores das imagens sagradas durante a segunda fase da crise iconoclasta.
Assim, no Domingo de Ramos de 815, foi possível assistir a uma procissão dos mil monges de Studios dentro de seu mosteiro, mas bem visíveis, portando os ícones sagrados e cantando solenes aclamações em sua honra.
A procissão, contudo, provocou a reação da polícia. Entre 815 e 821, Teodoro foi açoitado, preso e exilado em vários lugares da Ásia Menor.
Finalmente pôde voltar a Constantinopla, mas não ao seu próprio mosteiro. Então ele se estabeleceu com seus monges no outro lado do Bósforo, em Prinkipo, onde morreu em 11 de novembro 826.
O “non licet” (Mt 14, 3-11) que São João Batista opôs ao tetrarca Herodes pelo seu adultério, soou várias vezes na História da Igreja.
São Teodoro Studita, um simples religioso que ousou desafiar o poder imperial e as hierarquias eclesiásticas da época, pode ser considerado um dos patronos celestes daqueles que, ainda hoje, em face das ameaças de mudança da prática católica sobre o casamento, têm a coragem de repetir um inflexível non licet.
(Fonte: Corrispondenza Romana, 26 de agosto 2015)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

SANTA JULIANA DE NICOMÉDIA, VIRGEM E MÁRTIR.


Juliana acabara de se casar com Eulógio, prefeito de Nicomédia, quando disse que só teria relações sexuais se ele aceitasse a fé em Cristo. Ela voltou então para a casa de seu pai, que mandou despi-la e surrá-la duramente e depois a entregou ao prefeito, que perguntou: “Por que, minha querida Juliana, você me decepciona, me rejeita?”. Ela respondeu: “Se adorar meu Deus, vou aceitá-lo, senão você nunca será meu senhor”. O prefeito: "Minha senhora, não posso fazer isso, porque o imperador mandaria cortar minha cabeça”. Juliana replicou: “Se você teme dessa forma um imperador mortal, como quer que eu não tema um que é imortal? Faça o que quiser, mas assim não me terá”. O prefeito mandou surrá-la duramente com vara e, durante meio dia, pendurou-a pelos cabelos, enquanto lhe derramavam chumbo derretido sobre a cabeça. Como esse tormento não lhe fez mal algum, acorrentou-a e fechou-a numa prisão, onde o diabo foi encontrá-la sob a forma de anjo dizendo: “Juliana, sou o anjo que o Senhor enviou para exortá-la a sacrificar aos deuses, de modo que não seja atormentada por tanto tempo e não morra com tão cruéis suplícios”. Então Juliana pôs-se a chorar e orou: “Senhor, meu Deus, não permita que eu fraqueje, faça com que eu conheça quem é que me dá semelhantes conselhos”. Ouviu uma voz dizendo-lhe para agarrá-lo e forçá-lo a confessar quem era. Quando ela o pegou e perguntou quem era, ele disse que era o demônio e que seu pai o havia enviado para enganá-la. Juliana: “E quem é seu pai?”. Ele respondeu: “É Belzebu, que nos faz cometer toda sorte de mal e nos faz açoitar rudemente cada vez que somos vencidos pelos cristãos, o que para minha desgraça aconteceu quando eu vim aqui, porque não pude superá-la”. Ele confessou ainda que se mantinha distante dos cristãos quando estes celebravam o mistério do Corpo do Senhor, quando oravam e ouviam as pregações. Então Juliana amarrou-lhe as mãos atrás das costas e, jogando-o ao chão, bateu duramente nele com a corrente que servia para prendê-la. O diabo dava gritos e suplicava: “Minha senhora Juliana, tenha piedade de mim”. Nisso o prefeito mandou tirar Juliana da prisão, e ao sair ela arrastou atrás de si o demônio amarrado, que continuava dizendo: “Minha senhora Juliana, não me torne ainda mais ridículo, pois de hoje em diante não poderei mais dominar quem quer que seja. Dizem que os cristãos são misericordiosos, mas você não tem piedade de mim”. Ela o arrastou assim por toda a praça, e depois o jogou numa latrina. Ao chegar diante do prefeito, ela foi amarrada numa roda de maneira tão brutal que todos os seus ossos foram deslocados e a medula saiu deles, porém, um anjo do Senhor quebrou a roda e curou-a instantaneamente. Os que foram testemunhas desse prodígio passaram a crer e foram decapitados, os homens em número de 500 e as mulheres em número de 130. Depois disso Juliana foi jogada numa caldeira cheia de chumbo derretido, mas o chumbo transformou-se num banho de temperatura agradável. O prefeito amaldiçoou seus deuses por não serem capazes de punir uma moça que lhes infligia tão grande injúria. Mandou então decapitá-la. Quando a conduziam ao local em que deveria ser executada, o demônio que ela surrara apareceu sob a aparência de um rapaz, gritando: “Não a poupem, porque ela desprezou os deuses e surrou-me violentamente esta noite. Dêem-lhe o que ela merece”. Quando Juliana ergueu os olhos para ver quem lhe falava daquela maneira, o demônio fugiu, exclamando: “Ai, pobre de mim! Ainda acho que essa moça quer me prender e acorrentar”. Depois que Juliana foi decapitada, ocorreu uma tempestade na qual se afogaram no mar o prefeito e 34 homens que o acompanhavam. Seus corpos, vomitados pelas águas, foram devorados por animais e aves.
Tais eventos se deram sob o império de Maximiano, no ano de 305.
Os gregos celebram a memória de Santa Juliana, virgem e mártir, a 21 de Dezembro e a 8 de Agosto. A ela, em Constantinopla, ergueram uma igreja.
No Ocidente, honram sua memória aos 16 de Fevereiro.
O corpo da santa virgem foi sepultado na Nicomédia, mas, tempos depois, foi transferido para a Itália, ficando em Nápoles.